Surto da noite

     A noite sempre chegou como um soco no meu estômago desde que me entendo por gente. Sempre vi esta parte do dia (é estranho dizer que a noite é parte do dia) como um mal presságio desde bem nova. A escuridão, o silêncio, a calma duvidosa, o cansaço, a vulnerabilidade, tudo contribui. Me lembro de momentos da infância onde eu ficava em cima de uma mureta na frente de casa e ficava olhando para o céu e horizonte, vendo o sol se por entre colinas e dando espaço para o breu pouco a pouco. Aquilo me dava um certo medo, mas controlável. 

    Chegava as 18h, já era motivo para alertas. Às 20h, já era possível ter alguma crise existencial aos 8 anos de idade sobre o fato de que eu iria morrer um dia. Inclusive, achei por muito tempo que eu era a única a ter pensamentos mórbidos assim quando criança e recentemente conversei com 2 pessoas que também tinham isso. A saúde mental deles é duvidosa, mas de quem não é? 

    Desde então, vejo a noite mais como uma possível traidora do que amiga, já que ela sempre trouxe a tona meus piores medos, tristezas e paranoias. Hoje, não é diferente. Era pra eu ter um encontro essa noite que acabou sendo remarcado. O que me deixa chateada não é a não-presença da pessoa aqui hoje, mas a ausência de outra pessoa, independentemente de quem ela é. É estranho, eu gosto muito de ficar sozinha, mas não a noite. Eu não sou uma companhia confiável para mim mesma nesse período.

    Eu tive um dia ok, dormi até mais tarde (pois desempregada), tomei banho, me arrumei para ficar em casa e não me sentir tão inútil. Arrumei coisas pontuais que precisavam, como minha cama e limpar a caixa dos gatos. Estudei sobre tatuagem, uma possibilidade de futuro que eu não descarto. Um aprendizado raso, mas inicial e importante. Quando cansei, desenhei por 5 minutos e resolvi ver televisão comendo pipoca. Tava tudo bem. Mas aí surgiu notificação da minha mãe perguntando se havia novidades sobre empregos. Aí eu me lembrei do meu recente fracasso. Tudo bem que só fazem 5 dias que estou sem emprego, mas já é motivo para meu coração quase parar de tanta preocupação e minha mente acelerar pensando merda. 

    Esse texto não tem encerramento, muito menos objetivo. Caso você esteja se perguntando agora. Aliás, ele acaba aqui.

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