na fila do pão

Hoje eu queria que qualquer homem que fosse meu tipo olhasse pra mim e não visse o que eu vejo. Eu queria ser o tipo do meu tipo. Mas eu não sou. 

O tipo do meu tipo é uma mulher misteriosa, de corpo esguio e cabelos escuros. Ela lê livros e aprecia o silêncio de dias chuvosos. Ela provavelmente bebe café enquanto fuma um cigarro. Ela sabe seduzir sem se esforçar muito. É de um semblante sério, relaxado, quieto. Num fim de semana, ela aprecia a solitude, visita galerias e dá longos passeios de bicicleta. Talvez a noite vá em algum bar qualquer, para tomar uma cerveja qualquer, encontrar amigos quaisquer. Ela tem um sorriso cativante, perfeito do seu jeito. Ela sabe dançar, cantar, escrever, se divertir. 

Ah, como eu desejo ser ela. Por vezes até tento. Mas esse meu maldito caráter não me permite ser quem eu não sou. Eu falo alto, eu dou risada alta, sou simpática e boa demais. Sou gorda, de sorriso torto, mas sincero. Não consigo beber muito café, nem sou viciada em cigarros, apesar de apreciá-los de vez em quando. Eu sou sincera sobre tudo, minha vida, meus pensamentos e sentimentos. Eu não deixo nada desentendido, nada a duvidar. Sou expressiva demais. Não faço ideia como seduzir alguém e acabo fazendo piada na tentativa de conquistar o apreço. Num fim de semana eu durmo, limpo a minha casa, descanso, tenho preguiça de interagir ou de sair de casa. Mas eu sei dançar, escrever e cantar! Tudo mais ou menos.

Então, eu me vendo. Tento parecer o produto mais vendido dessa cidade, mas não dá. Eu não convenço. Eu acabo sendo aquele biscoito da prateleira que ninguém passa, que ninguém conhece, mas até que é gostoso. Ah, mas não tem porque arriscar, não é? O biscoito de sempre tá mais próximo do caixa e esse ele tenho certeza que vai comer e vai gostar, afinal já provou várias vezes antes.

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