Tudo estava bem até não estar mais
Acho que é assim que a vida funciona. Até ontem a noite, a vida estava normal, apesar de longe de bem. Estável, seria a melhor palavra para descrever. Aí, tomei uma decisão que já tinha sido estabelecida em minha mente há um tempo, mas nunca externalizada.
Tudo ocorreu bem, dentro da anormalidade. Eu estava chateada, mas não triste. Ele estava calmo, com um ar de que finalmente teve o que esperava com tanto receio. Nos abraçamos, chorei, jantamos e dormimos. Bem, ele dormiu. Fiquei em claro apesar de ter tomado meu calmante diário para não pensar besteira e pegar no sono. Não adiantou muito desta vez. Ao menos, eu não pensei besteira.
Eu olhava para as paredes, para a janela, para as costas dele, tentando imaginar como seria a minha vida sem aquilo, sem aquela presença. Por hora, essa assombração não me assustou, fiquei levemente ansiosa pelo dia seguinte. Ao mesmo tempo, estava inquieta, querendo a atenção e carinho que eu não iria mais receber a partir dali. Depois de quase 3 horas nessa aflição, finalmente dormi.
A manhã chegou, o sono ainda estava impossível de aguentar, só conseguia pensar em mais alguns minutos para voltar ao mundo inconsciente. Num leve estado de alerta, vi ele levantar, escovar os dentes, juntar suas coisas do banheiro, colocar uma roupa e guardar o pijama. Então, parou na porta do quarto e pediu para que abrisse a porta, que já estava indo embora. Obviamente, assim fiz.
Desta vez não houve abraço. Desta vez não houve beijo. Desta vez não houve "avisa quando chegar". Houve apenas um "qualquer coisa, me avisa". Avisarei o que, exatamente?
Agora, a sensação de solidão no mundo volta. Não que antes eu não estivesse, mas o conforto de ter alguém do lado abafa qualquer sentimento desses. Agora, percebo que ansiedade pelo dia seguinte foi em vão. Foi um dia qualquer, como outros serão. Não sei bem o que sentir, pensar, fazer. Minha vontade é apenas me silenciar diante de tudo que se passou conosco durante esses anos, contemplar a vida que dividimos e os ressignificados que trouxe. Me sinto grata, talvez. Porém, triste de ver que, mais uma vez, não deu. Então vem o medo.
E se nunca der?
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