Minha depressão

Eu me prendo em silêncios, só a voz da minha cabeça reina nesses dias de escuridão profunda da alma e da cidade. Faz dias que não abro a minha janela, eu nego comida, nego um banho, nego ir ao banheiro por puro vazio, medo de enfrentar o que me assombra durante tantos anos, que faz eu tomar drogas que só me sequelam e não me ajudam em praticamente nada. Eu, que sinto o gosto amargo do meu próprio inimigo: eu mesma. Me encontro sem esperança, sem passado, sem um futuro. Não lembro qual foi o ultimo remédio que tomei. Não lembro a ultima vez que comi decentemente. Não sinto amor nem de mim mesma. Minha unica companhia e afago, que ainda me exige um mínimo de compaixão para lhe acariciar, é meu gato, que passa seus dias dormindo, assim como eu, para passar a vida. Não só o tempo. Aqui estou eu, com um destino que me foi cruel, com o sentimento de que nada pode dar certo, não por muito tempo, que não entende a felicidade alheia e que a inveja. Nem ao menos tenho o gosto de ler os livros que estão a minha frente, minha cama virou deposito de lixo e eu estou nele, me sentindo como um. Não aguento meu próprio cheiro,  não suporto a fraqueza que sinto em meus músculos atrofiados, não suporto a podridão da minha mente e ser. Ninguém pode me salvar agora, nem mesmo eu, nem os remédios. Sinto a dor da solidão que me assola, porém não me vem ninguém a mente em que eu me sinta confortável de estar perto do jeito que estou agora. Pobre de minha mãe, que se vê impotente ao chegar todos os dias do trabalho, que se vê tão sozinha como eu no momento, que não sabe lidar. Meu corpo fede, minha alma fede. E se exala, eu tomo o corpo e a paciencia das pessoas ao meu redor e trago elas para as profundezas que me encontro. E, mesmo assim, estou sozinha. Eu costumava usar roupas que me agradavam, maquiagem, perfume, sorriso frouxo e tudo se foi, rápida e magicamente. Bom, tudo está aqui, mas não parece mais combinar comigo. Não me cabe mais. Eu estou engordando e estou a cada dia mais pálida. Aparentemente é das medicações, pois comida é pouca. A pior das coisas é que tenho um poder de autoanalise e crítica muito eficiente, que funciona sempre, até nesses momentos. Tanto que estou descrevendo meus sentimentos e vivências aqui, agora. Sei exatamente o que está acontecendo, isso me é familiar, mas eu ainda não descobri como eu resolvo, nunca consegui. Pessoas me dizem, me dão receitas, algumas que parecem infalíveis, mas elas envolvem reação, e eu não tenho. Acho que nunca tive. Mais uma vez, as drogas não fazem mais efeito, isso já aconteceu algumas três vezes. Mesmo assim tenho que tomar, aparentemente as coisas podem piorar e eu prefiro não arriscar. Toda vez que falo com minha psiquiatra ela pergunta se estou pensando em "fazer algo contra minha vida", pois se pode morrer de várias maneiras. Normalmente, quase sempre, digo que não. Mas, pensando bem, eu já estou fazendo isso. E não por minha vontade completa. De alguma maneira, o fodido do universo me deu essa doença que mata a cada dia, que mata cada sentimento bom que alguém possa ter, que divide famílias em pedaços, que me deixa em escuridão completa, sem visão, que me tira a vida, oportunidades, relacionamentos. Uma doença que faz eu ter a visão distorcida de mim mesma e do mundo a minha volta. Antes eu sabia disfarçar meus dias ruins, afinal eu sou uma pessoa de importância na vida de muita gente, de algumas até que não faço ideia, me sinto um elo de experiências, vidas, culturas. Eu sou a amiga que dá conselhos, que conhece muito bem cada um de seus amigos em pequenos detalhes, que sabe muito sobre relações entre pessoas (meu atual namorado disse isso e ele tem razão). Acho que é por isso que eu ainda estou viva. Vivo pra fazer a felicidade dos outros, pra que suas vidas possam continuar tranquilas e afagadas quando precisam. Bem, agora não dá mais, cheguei num ponto que disfarce nenhum cobre.

[eu não quero que julgue algo que eu falei aqui, é só pra saber como eu estou]

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