A morte de um ídolo, o nascimento de uma nova batida
Era uma noite agradável, onde os aventurados ousavam usar mangas curtas. Naquela noite, o vento estava gelado, o chão, o asfalto, ainda estavam molhados, pois havia chovido muito no meio da tarde. Era um domingo, ninguém estava realmente preocupado com o tempo lá fora.
Tinha um bar na cidade onde tocavam punk rock dependendo do dia, ou devo dizer: da noite. O lugar era escuro, apenas umas lampadas fracas em luminárias localizadas por alguns cantos, era calor lá dentro, assim que os encasacados entravam, já sentiam o calor da fumaça de cigarro e de toda aquela gente que se amontoava naquele cubículo. Por lá se encontravam rostos conhecidos, outros de outros carnavais, e também de gente que nunca se imaginou. Metade de baixo das paredes eram "forradas" com madeira e o resto eram mal pintadas com tinta branca, estavam mofadas de tanta umidade, manchadas de vinho que caíra noites passadas. Era uma gritaria sem tamanho, barulhos de copos colidindo, quebrando-se.
Era 15 de Abril de 2001, Joey Ramone tinha morrido neste dia, então fizeram uma festa "Ramonica" naquele domingo. Colocaram do "Ramones" ao "Adios Amigos!", alguns estavam tão bêbados que choravam pelos cantos do bar. Mas realmente: um ídolo grandioso falecera naquele dia, acho que, por mais que bêbados, eram os que estavam mais conscientes. Havia uma garota naquele bar, 17 anos, fugida dos pais, mas depois falamos sobre ela.
Antônio: jaqueta de couro, calça jeans larga, corrente de prata, camiseta preta, moreno, olhos levemente claros, barba, magro, olhar cerrado, pareciam quase fechados. Ele dava um ar de preocupado com alguma coisa, talvez fosse o trabalho, talvez fosse um vazio que ele sentisse do qual não sabia o motivo. Eram 21h36min quando ele entrou no bar, a música conseguia ser um pouquinho mais alta que a gritaria lá de dentro. Era uma noite solitária para ele como todas as outras, mas essa era diferente: o vocalista da sua banda favorita tinha passado dessa pra melhor, não tinha nada na tevê e a cerveja de casa tinha acabado. Suponho que ele tivesse apenas a carteira num bolso e a carteira de cigarros no outro, mas só isso que ele carregava dessa vez. Antônio ultrapassa alguns alterados e arranja um banco por sorte no balcão, pede uma cerveja, entrelaça uma mão na outra sobre a mesa e observa seus dedos e unhas. Ele tinha olhos de saudade, mas do que?
No outro lado do salão, na fila do banheiro, estava Verônica, 17 anos de pura autenticidade. Jaqueta de couro, calça jeans, colar com uma palheta, camiseta preta, morena, olhos levemente escuros, magra, olhar dissimulado e desconfiado. Ela parecia cansada, triste por algum motivo, talvez porquê a fila do banheiro estava enorme. Ela se sentia vazia, como se algo faltasse na sua vida. Tinha fugido aquela noite dos pais, queria esquecer um pouco aquela vida que lhe parecia tão medíocre e pobre, não via mais graça nas piadas que passavam na tevê, não pensava mais que cigarros e bebidas eram prejudiciais. Havia chegado às 20h27min, o lugar era perto da sua casa e o som que vinha de lá era como hipnose. Tinha sido um domingo difícil, seu Ramone favorito havia morrido. Sua maquiagem já estava borrada, os olhos manchados, a boca sem cor. Finalmente, chegou sua vez de usar o banheiro.
[Não seria mera coincidência, ou trapalhada do destino, ou de fato sorte se esses dois se conhecessem? Ok. Vamos fazer como todo mundo gosta...]
"He's gonna kill that girl, (hey) He's gonna kill that girl, (hey) He's gonna kill that girl tonight..."
"Puts, versão live tocando junto com essa gritaria?" - pensou Verônica.
"Isso aqui tá tão barulhento que nem ao menos consigo ouvir a versão live. E cadê minha cerveja?" - lamentou Antônio.
A cerveja chegou junto com o movimento espontâneo, com o vulto preto para o lado de Antônio, o vulto mais interessante que ele já tinha visto. Ela observa o que todos bebem, procura alguma coisa que faça com que ela fique bêbada. Ela pede uma água, acaba desistindo da aventura. Verônica finge que não, mas percebe Antônio ao seu lado brincando com seu copo suado, observa os movimentos minimalistas dele com uma atenção breve, e logo começa a devanear. Ela nota que ele a observa.
"They do their best, they do what they can. They get them ready for the Viet Nam."
Tentando disfarçar seus olhares, ele apoia seu rosto na palma da mão para que a garota não percebesse seu interesse em observa-la. Antônio era sem jeito, não sabia camuflar tanto assim. Finalmente uma emoção na vida de cada um, por um momento sentiram algo a mais que o tédio que passaram naquela tarde.
"Vamos lá, garota! Você não vai passar sua vida inteira esperando que algo aconteça de repente. Se inspire naqueles filmes bestas e faça algo fora da rotina." - pensou ela.
"Vamos lá, cara! Tente puxar algum assunto..." - antes que ele terminasse seu pensamento, ele sente algo tocando em seu rosto. De repente viu-se sendo beijado pelo vulto que surgira ao seu lado minutos antes, vulto pelo qual estava apaixonado e assustado ao mesmo tempo. Minutos se transformaram em segundos, tudo foi extremamente raro e rápido.
- Sinto que te conheço de algum lugar, estou louco? - perguntou ele.
- Senti isso também, talvez nos encontrávamos em sonhos que nem nos lembramos mais. Talvez de vidas passadas, ou quem sabe já nascemos com um encontro marcado hoje, essa noite. - disse ela.
- Como isso é possível? Não sei nem teu nome.
- E precisa? Nem ao menos sei o teu, nem ao menos sabia o som da tua voz e tua boca já me disse tudo o que eu precisava saber.
- Eu vou te ver mais vezes na minha vida?
- Talvez. Eu espero que sim. O mundo anda hostil, podemos nos ver amanhã assim como podemos nos encontrar daqui a 30 anos.
- Eu não sei porquê, eu nunca fui desse jeito, me explica o que tá acontecendo!
- Se eu fosse racional ao ponto de querer explicar algo totalmente sem sentido como o que aconteceu agora, eu não teria feito o que fiz. Bom, eu espero te ver algum dia, talvez amanhã na frente da tabacaria do bairro.
- Posso te esperar com a certeza de que estará lá?
- Não tenha dúvida disso.
"Know I'll never find a girl like you; But in my heart I'll always be true; Yeah yeah, she's the girl; The best girl in the whole wide world; When I see her on... she's the one, she's the one..."
Tinha um bar na cidade onde tocavam punk rock dependendo do dia, ou devo dizer: da noite. O lugar era escuro, apenas umas lampadas fracas em luminárias localizadas por alguns cantos, era calor lá dentro, assim que os encasacados entravam, já sentiam o calor da fumaça de cigarro e de toda aquela gente que se amontoava naquele cubículo. Por lá se encontravam rostos conhecidos, outros de outros carnavais, e também de gente que nunca se imaginou. Metade de baixo das paredes eram "forradas" com madeira e o resto eram mal pintadas com tinta branca, estavam mofadas de tanta umidade, manchadas de vinho que caíra noites passadas. Era uma gritaria sem tamanho, barulhos de copos colidindo, quebrando-se.
Era 15 de Abril de 2001, Joey Ramone tinha morrido neste dia, então fizeram uma festa "Ramonica" naquele domingo. Colocaram do "Ramones" ao "Adios Amigos!", alguns estavam tão bêbados que choravam pelos cantos do bar. Mas realmente: um ídolo grandioso falecera naquele dia, acho que, por mais que bêbados, eram os que estavam mais conscientes. Havia uma garota naquele bar, 17 anos, fugida dos pais, mas depois falamos sobre ela.
Antônio: jaqueta de couro, calça jeans larga, corrente de prata, camiseta preta, moreno, olhos levemente claros, barba, magro, olhar cerrado, pareciam quase fechados. Ele dava um ar de preocupado com alguma coisa, talvez fosse o trabalho, talvez fosse um vazio que ele sentisse do qual não sabia o motivo. Eram 21h36min quando ele entrou no bar, a música conseguia ser um pouquinho mais alta que a gritaria lá de dentro. Era uma noite solitária para ele como todas as outras, mas essa era diferente: o vocalista da sua banda favorita tinha passado dessa pra melhor, não tinha nada na tevê e a cerveja de casa tinha acabado. Suponho que ele tivesse apenas a carteira num bolso e a carteira de cigarros no outro, mas só isso que ele carregava dessa vez. Antônio ultrapassa alguns alterados e arranja um banco por sorte no balcão, pede uma cerveja, entrelaça uma mão na outra sobre a mesa e observa seus dedos e unhas. Ele tinha olhos de saudade, mas do que?
No outro lado do salão, na fila do banheiro, estava Verônica, 17 anos de pura autenticidade. Jaqueta de couro, calça jeans, colar com uma palheta, camiseta preta, morena, olhos levemente escuros, magra, olhar dissimulado e desconfiado. Ela parecia cansada, triste por algum motivo, talvez porquê a fila do banheiro estava enorme. Ela se sentia vazia, como se algo faltasse na sua vida. Tinha fugido aquela noite dos pais, queria esquecer um pouco aquela vida que lhe parecia tão medíocre e pobre, não via mais graça nas piadas que passavam na tevê, não pensava mais que cigarros e bebidas eram prejudiciais. Havia chegado às 20h27min, o lugar era perto da sua casa e o som que vinha de lá era como hipnose. Tinha sido um domingo difícil, seu Ramone favorito havia morrido. Sua maquiagem já estava borrada, os olhos manchados, a boca sem cor. Finalmente, chegou sua vez de usar o banheiro.
[Não seria mera coincidência, ou trapalhada do destino, ou de fato sorte se esses dois se conhecessem? Ok. Vamos fazer como todo mundo gosta...]
"He's gonna kill that girl, (hey) He's gonna kill that girl, (hey) He's gonna kill that girl tonight..."
"Puts, versão live tocando junto com essa gritaria?" - pensou Verônica.
"Isso aqui tá tão barulhento que nem ao menos consigo ouvir a versão live. E cadê minha cerveja?" - lamentou Antônio.
A cerveja chegou junto com o movimento espontâneo, com o vulto preto para o lado de Antônio, o vulto mais interessante que ele já tinha visto. Ela observa o que todos bebem, procura alguma coisa que faça com que ela fique bêbada. Ela pede uma água, acaba desistindo da aventura. Verônica finge que não, mas percebe Antônio ao seu lado brincando com seu copo suado, observa os movimentos minimalistas dele com uma atenção breve, e logo começa a devanear. Ela nota que ele a observa.
"They do their best, they do what they can. They get them ready for the Viet Nam."
Tentando disfarçar seus olhares, ele apoia seu rosto na palma da mão para que a garota não percebesse seu interesse em observa-la. Antônio era sem jeito, não sabia camuflar tanto assim. Finalmente uma emoção na vida de cada um, por um momento sentiram algo a mais que o tédio que passaram naquela tarde.
"Vamos lá, garota! Você não vai passar sua vida inteira esperando que algo aconteça de repente. Se inspire naqueles filmes bestas e faça algo fora da rotina." - pensou ela.
"Vamos lá, cara! Tente puxar algum assunto..." - antes que ele terminasse seu pensamento, ele sente algo tocando em seu rosto. De repente viu-se sendo beijado pelo vulto que surgira ao seu lado minutos antes, vulto pelo qual estava apaixonado e assustado ao mesmo tempo. Minutos se transformaram em segundos, tudo foi extremamente raro e rápido.
- Sinto que te conheço de algum lugar, estou louco? - perguntou ele.
- Senti isso também, talvez nos encontrávamos em sonhos que nem nos lembramos mais. Talvez de vidas passadas, ou quem sabe já nascemos com um encontro marcado hoje, essa noite. - disse ela.
- Como isso é possível? Não sei nem teu nome.
- E precisa? Nem ao menos sei o teu, nem ao menos sabia o som da tua voz e tua boca já me disse tudo o que eu precisava saber.
- Eu vou te ver mais vezes na minha vida?
- Talvez. Eu espero que sim. O mundo anda hostil, podemos nos ver amanhã assim como podemos nos encontrar daqui a 30 anos.
- Eu não sei porquê, eu nunca fui desse jeito, me explica o que tá acontecendo!
- Se eu fosse racional ao ponto de querer explicar algo totalmente sem sentido como o que aconteceu agora, eu não teria feito o que fiz. Bom, eu espero te ver algum dia, talvez amanhã na frente da tabacaria do bairro.
- Posso te esperar com a certeza de que estará lá?
- Não tenha dúvida disso.
"Know I'll never find a girl like you; But in my heart I'll always be true; Yeah yeah, she's the girl; The best girl in the whole wide world; When I see her on... she's the one, she's the one..."
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