A ilha é um coração

     Eu não sei, talvez seja algum problema que tenho em gostar de coisas inalcançáveis. Muita gente é assim, na realidade, mas poucas pessoas compreendem de fato. Mas, também, é difícil de entender ou explicar, porque nem controlamos essa vontade muitas vezes. Eu almejo aquela ilha faz um tempo, eu tento me aproximar da praia, mas as correntes me desviam. Um marujo em alto-mar, preso por anos em um navio amaldiçoado por Afrodite, condenado a viver anos de sua vida velejando em mar aberto a procurar algum vestígio de terra onde pudesse descansar a cabeça sem o balanço das ondas. Eu, o marujo, fiquei preso entre algumas ilhas, certas vezes tive a sorte de chegar perto da costa, mas não por muito tempo. Sempre existiu uma ilha - não muito grande, mas bem aconchegante - nos arredores, mas nunca consegui chegar até lá.
     Tentei de várias maneiras realizar o que queria, mas o vento nunca foi favorável a mim, nem Afrodite. Não sabia o motivo pelo qual ela parecia não gostar muito de mim, afinal eu era apenas um marinheiro cuja sua única esperança é voltar pra casa depois de muitos dias ausente. A vida no mar é solitária, e pode te ensinar muitas coisas, como ter bravura, por exemplo. Mas, essa bravura e armadura pode se desgastar com toda essa maresia, enferrujar. Assim me encontro. Não tenho para onde voltar e, por algum motivo que só Afrodite pode explicar, não posso debruçar meu corpo cansado - exausto -  nas areias daquele ilhéu. Que os deuses me ajudem a chegar lá . . .