Tem alguém que é mais viciado nos poemas de ônibus que eu?

     Sou fascinada por poemas de ônibus. Enquanto alguns acham todos banais, tiro proveito daquela poesia feita por pessoas reais, mundanas, que estão no meio de nossa cidade. Não sabemos os seus rostos, mas sabemos o que se passa pelas suas mentes. A hora do poema no ônibus é sagrada para mim, não sei explicar. Ao me sentar ou entrar, imediatamente procuro algum título que me interessa nos vidros, procuro também por versos em que eu me vejo, os quais pertenço. Hoje, quando ia para o centro, li um do qual não lembro o nome, mas que tinha os seguintes versos: "hei de me tornar o mais perfeito palhaço,/ só para te fazer sorrir". Observe com o coração esses dois versos. Quantas vezes não fizemos isso? Creio que fiz isto minha vida inteira.

     Hoje nos tornamos mais distantes em nossa distinção de velhice, porém ao menos dessa vez não terei a má sorte de te ver nos braços de outra. Se fizeres isto, será escondido de meus olhos. Todavia, estarei mentalizando o que há de melhor no mundo, esperando que sua vida seja maravilhosa, que tudo o que deseja se realize, que seus sonhos, por mais que simples e um tanto idealistas, se concretizem, que a felicidade esteja sempre contigo, que seu coração bata com calma quando tudo estiver acelerado, que você consiga aproveitar o máximo de tudo que tem.

     Um dia, irei escrever um poema de ônibus. Quero estar na janela de um ônibus qualquer, quero inspirar alguém assim como alguém me inspira quando leio algum, quero homenagear-te, quero ser um rosto desconhecido, mas quero ter um coração que todos conhecem.