Esperando o ônibus passar
Estava me sentindo cansada, não sei o exato motivo, não sei o que estava de tão errado. A errada podia ser eu por ver tantas coisas cinzas, a errada podia ser a sociedade por ser tão cinza, o errado poderia ser pensar em tudo isso pra colocar a culpa em alguém ou alguma coisa. Possibilidades são infinitas, basta escolher a mais plausível. ''Society'' de Eddie Vedder me parecia uma ótima música para escutar no ônibus, mas me entristece a realidade de que só ando algumas paradas para não ter que andar 30 minutos pela manhã. Talvez eu seja a única "humana" a gostar de andar de ônibus. Eu diria que é a melhor parte do meu dia (agora imagine o dia em que o ponto alto é andar em um veículo público, cheio de gente, com doenças espalhadas em todos os centímetros, onde todos se encontram com uma cara fechada e triste).
Cansei de sonhos perdidos, a realidade é um fato, eu vivi tempo demais no meu mundo de fantasias, todavia me parece que, às vezes, este meu mundo vaza para o mundo dos outros. Isso não me puxa pro mundo das outras pessoas, isso acaba me puxando para o meu mundo, pois faz eu acreditar que quanto mais eu acreditar nele, mais ele pode ser real. Maluquices quem sabe. E como o ônibus é o único lugar que se concentra a maior quantidade de pessoas que eu não conheço num mesmo momento, é ali que eu procuro uma luz. Alguém que pareça comum apesar de distante da minha realidade, alguém que partilhe os mesmos pensamentos, mas nada disso adianta se eu não me dispor a perguntar. Então, acabo perdendo nesse jogo, já que eu deixo minha vergonha e individualidade permanecer até que a situação seja muito critica.
Talvez eu não procurasse pessoas em comum, talvez uma seria suficiente. Alguma diferente das que me rodeiam, alguém que se apresente diferente, que diga coisas diferentes, porém com sentido elevado, com quem pudesse conversar desde desenhos antigos até política atual. Alguém que não se referisse a mim com um apelido nojento de se ouvir, que tenha respeito mútuo, que não zombe da minha inteligencia, que não fale sobre coisas rasas, que seja cordial, (parece besteira, mas) que compartilhe boas músicas (e de fato músicas que tem a ver comigo, não uma que simplesmente goste de escutar). De banco em banco, meu olhar se estende, tentando decifrar o que alguém está pensando, no que ele está pensando, mesmo que pareça vago. Eu tive a sorte de encontrar alguém assim, do jeito que descrevi, encontrei-o quando eu tinha 13 ou 14 anos na primeira vez em que fui a um bar (por mais que acompanhada da família). Nunca vou esquecer do sorriso que ele tem, do som da risada, das roupas que usara, do lado em que o cabelo era dividido, do jeito que ele não olhou pra mim, mas que depois decidiu olhar.
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