Mais um dia sem você

     Hoje me deu tanta saudade, paizinho. Eu tive tão pouco tempo pra te aproveitar com consciência, demorei tanto tempo pra entender que você não era eterno, apesar de você ter me avisado isso tantas vezes. Hoje, fiquei olhando pra suas fotos, pras nossas fotos. Me veio tantas imagens na minha cabeça, como o dia que você chegou de uma viagem de risco, pois era o mês mais chuvoso e tempestuoso do ano e você fez uma viagem de moto que durou mais de 6 horas, como também as manhãs que você me levava pra escola em Cachoeirinha, que andava comigo, apesar da pouca idade que eu tinha, na garupa da moto, quando íamos sem rumo nos fins de semana pra qualquer lugar.
      Eu tinha orgulho, e até hoje tenho, de dizer o quanto você era forte. Não só forte fisicamente, mas por força de vontade também. Adorava aquela história que você levantou a traseira de um fusca pelo qual motivo não me lembro, quando você salvou minha avó depois do acidente que aconteceu na sua frente, ou quando arriscou sua vida para salvar a minha no dia em que fiquei presa a um fio de alta tensão. Você é um herói, meu herói.
       E são em fotos que tenho que me contentar. O que você pensaria de mim se estivesse aqui? Você dançaria comigo nas festas de família como você fazia? Você me xingaria muito pelas minhas burradas? Me obrigaria a sair de casa e me aventurar pela rua? Me diria para me arriscar mais? Diria pra eu ser forte? Diria pra eu parar de chorar e fazer alguma coisa? Será que as brigas e intrigas aconteceriam na mesma intensidade que acontecem sem você aqui? Papai, to tão cansada. Queria você comigo de novo pra te dar o ultimo abraço e o ultimo beijo de boa noite.
       Tudo o que eu queria sentir hoje era seu abraço, suas mãos que lembro com tantos detalhes mínimos, queria sentir teu cheiro que achava tão enjoado e que hoje me faz tanta falta. Queria comer aquele feijão que tanto gostava, queria meu companheiro de lavar carro comigo, parceiro de andar de moto, parceiro para todas as horas. Todos têm tantas memórias, e eu tenho tão poucas guardadas dentro de mim. Você me ensinou a ser forte, me mostrou a música à partir do momento em que cantava todos os dias pra sobreviver as dores que a vida lhe trazia, me deu vontade de ser quem eu quero ser. Queria ao menos saber se você tem tanto orgulho de mim como eu tenho de você. Eu te amo muito.

Hoje, teu filho mais velho e meu irmão colocou essa música em homenagem as danças que você e a Dada tinham nas festas mais antigas. Quando eu a ouvi, senti sua presença.